sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


David Summers: One Representation

David Summers procura neste ensaio construir um esquema histórico para o problema da representação para dar sentido àquilo que no final vai defender: a prioridade histórica da imagem mental. Rapidamente o autor passa sobre a questão da representação estar relacionada com semelhança ou imitação para referir três factores associados ao assunto: o objecto, a sua imagem real e a imagem mental que fazemos dele. A percepção deste objecto é-nos mediada pelos sentidos e interpretada pela psyche. Segundo Platão, a realidade é mediada e não imediata o que implica a constituição de conceitos como ideia e fantasia ou imaginação. A visão é o sentido que mais se aproxima da forma mental e, associado à memória, constitui uma das principais fontes de informação para a representação no campo da arte. Tal como as palavras ou os signos, as imagens não reproduzem todas as qualidades daquilo que mostram, mas funcionam como índex - aquilo que Aristóteles referia como traço ou marca. Assim, um retrato não se pode assemelhar ao carácter, mas é uma manifestação deste.

Outra forma de abordar a representação seria através do conceito de equivalência, ou seja, uma representação pode ser algo que possui igual força ou valor, por exemplo, as palavras não podem recriar, mas podem fundir-se com a memória e com a emoção para constituir uma força equivalente na imaginação. O conceito de equivalência veio suprir a ideia de que uma representação é uma substituição ou uma semelhança como inicialmente poderíamos pensar. A representação é como um símbolo que apresenta outra coisa que não ele próprio.

Desde a época medieval a imagem ganha um sentido metafórico, torna-se uma alegoria, torna-se simbólica. Na linguagem matemática a representação pode ser uma relação, como no exemplo que o autor nos dá, o mercúrio de um termómetro representa uma temperatura. Na pintura a introdução da perspectiva coloca as figuras em relação com o espaço. A perspectiva indicia a representação dessas mesmas relações tal como uma metáfora, um ponto de vista subjectivo. Francis Bacon é referido no ensaio por ter introduzido uma visão moderna e revolucionária. Segundo o filósofo, existe um erro prejudicial na construção de uma forma mental metafórica, pois a mente humana cria ficções como um falso espelho que mistura e distorce imagens. Esta forma empírica de percepção do mundo não se aplica a todas as ciências. A representação torna-se então a imaginação de uma ordem da qual necessitamos.

Decartes definiu ideias como pensamentos que são imagens de coisas, ou seja, imagens geradas mentalmente, pois não há nada nos objectos que seja semelhante à ideia da sensação que temos deles. Segundo o autor esta definição foi continuada por Nietche, Freud e mais tarde por Derrida, associando a memória como capacidade diferencial para retenção de um estímulo. Acerca disto, gostaria de introduzir uma performance recente de Olga de Sotto baseada nas memórias de uma peça de Rolland Pettit, Le Jeune Homme et le Mort, de 1946 visionada por septuagenários actualmente. As memórias dos entrevistados eram descritas como imagens mentais enevoadas e incoerentes entre si, mas as imagens que se geram na imaginação de quem ouve essas mesmas memórias são precisamente as imagens mentais construídas no campo oposto da mente e ambas, sem deixarem de ser imagens mentais, colocam no limite a nossa percepção entre passado, presente e futuro, entre memória e imaginação. De alguma forma, esta estrutura pode aproximar-se da aclamada intuição referida pelos idealistas, mas não saberia onde introduzir a estética de Kant, ou como se poderiam julgar estas imagens. Independentemente do ponto de vista, David Summers remete-nos novamente para uma questão pertinente, as representações são significantes especialmente se tentarmos perceber como e o que é que representa. Recomenda que se olhe para a representação para além da imitação e que se explorem todas as suas possibilidades, problemas e variedades no sentido de tentar perceber como funciona a representação, deixando em aberto que esta interpretação pode funcionar para a cultura ocidental, mas que eventualmente pode escassear para a compreensão noutras culturas.

Sara Magno

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