David Summers: One Representation
David Summers procura neste
ensaio construir um esquema histórico para o problema da representação para dar
sentido àquilo que no final vai defender: a prioridade histórica da imagem
mental. Rapidamente o autor passa sobre a questão da representação estar
relacionada com semelhança ou imitação para referir três factores associados ao
assunto: o objecto, a sua imagem real e a imagem mental que fazemos dele. A percepção deste objecto é-nos
mediada pelos sentidos e interpretada pela psyche.
Segundo Platão, a realidade é mediada e não imediata o que implica a
constituição de conceitos como ideia
e fantasia ou imaginação. A visão é o sentido que mais se aproxima da forma
mental e, associado à memória, constitui uma das principais fontes de
informação para a representação no campo da arte. Tal como as palavras ou os signos,
as imagens não reproduzem todas as qualidades daquilo que mostram, mas
funcionam como índex - aquilo que Aristóteles referia como traço ou marca. Assim, um
retrato não se pode assemelhar ao carácter, mas é uma manifestação deste.
Outra forma de abordar a
representação seria através do conceito de equivalência,
ou seja, uma representação pode ser algo que possui igual força ou valor, por
exemplo, as palavras não podem recriar, mas podem fundir-se com a memória e com
a emoção para constituir uma força equivalente na imaginação. O conceito de
equivalência veio suprir a ideia de que uma representação é uma substituição ou
uma semelhança como inicialmente poderíamos pensar. A representação é como um
símbolo que apresenta outra coisa que não ele próprio.
Desde a época medieval a imagem
ganha um sentido metafórico, torna-se uma alegoria, torna-se simbólica. Na
linguagem matemática a representação pode ser uma relação, como no exemplo que o autor nos dá, o mercúrio de um
termómetro representa uma
temperatura. Na pintura a introdução da perspectiva coloca as figuras em
relação com o espaço. A perspectiva indicia a representação dessas mesmas
relações tal como uma metáfora, um ponto de vista subjectivo. Francis Bacon é
referido no ensaio por ter introduzido uma visão moderna e revolucionária.
Segundo o filósofo, existe um erro prejudicial na construção de uma forma
mental metafórica, pois a mente humana cria ficções como um falso espelho que
mistura e distorce imagens. Esta forma empírica de percepção do mundo não se
aplica a todas as ciências. A representação torna-se então a imaginação de uma
ordem da qual necessitamos.
Decartes definiu ideias como
pensamentos que são imagens de coisas, ou seja, imagens geradas mentalmente,
pois não há nada nos objectos que seja semelhante à ideia da sensação que temos
deles. Segundo o autor esta definição foi continuada por Nietche, Freud e mais
tarde por Derrida, associando a memória como capacidade diferencial para
retenção de um estímulo. Acerca disto, gostaria de introduzir uma performance
recente de Olga de Sotto baseada nas memórias de uma peça de Rolland Pettit, Le Jeune Homme et le Mort, de 1946 visionada
por septuagenários actualmente. As memórias dos entrevistados eram descritas
como imagens mentais enevoadas e incoerentes entre si, mas as imagens que se
geram na imaginação de quem ouve essas mesmas memórias são precisamente as imagens
mentais construídas no campo oposto da mente e ambas, sem deixarem de ser
imagens mentais, colocam no limite a nossa percepção entre passado, presente e
futuro, entre memória e imaginação. De alguma forma, esta estrutura pode
aproximar-se da aclamada intuição referida
pelos idealistas, mas não saberia onde introduzir a estética de Kant, ou como
se poderiam julgar estas imagens. Independentemente do ponto de vista, David
Summers remete-nos novamente para uma questão pertinente, as representações são
significantes especialmente se tentarmos perceber como e o que é que representa.
Recomenda que se olhe para a representação para além da imitação e que se
explorem todas as suas possibilidades, problemas e variedades no sentido de
tentar perceber como funciona a representação, deixando em aberto que esta
interpretação pode funcionar para a cultura ocidental, mas que eventualmente
pode escassear para a compreensão noutras culturas.
Sara Magno
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