Marcel Duchamp: The Creative Act
Este texto foi escrito por Duchamp em Abril de 1957 no
âmbito de várias conferências sobre arte em Hoston, nos Estados Unidos e fala
essencialmente sobre o processo criativo. O texto começa por colocar o artista
num plano mediúnico, que está fora de qualquer plano estético e que procura uma
espécie de esclarecimento através de um processo intuitivo. A obra de arte que
é produzida dentro destes contornos será então sujeita a um veredicto do
público que irá determinar o valor social dessa obra. Nesta fase o artista
deixa de ter qualquer controlo sobre a sua obra e esta fica à mercê da crítica do espectador.
O artista, ou o escritor neste caso, procura em seguida, uma
definição de arte. É interessante neste ponto relembrar uma entrevista escrita
a Marcel Duchamp com o título d´ O
Engenheiro do Tempo Perdido em que ele diz: “não acredito na função
criativa do artista (…) por outro lado a palavra arte interessa-me muito. (…)
Antigamente, eles eram designados por uma palavra que prefiro: artesãos. (…) A
palavra artista foi inventada quando o pintor se transformou num personagem.”
Mais à frente o artista refere a sua paixão pelo xadrez e continua a sua
indagação sobre o meio artísticos da seguinte forma: “(…) o meio dos jogadores
de xadrez é bem mais simpático que o dos artistas. Estes são completamente
confusos, completamente cegos, usam viseira de burro. São loucos de certa
natureza, como se esperava que eles sejam; mas não o são em geral. Isso foi o
que provavelmente mais me interessou.” É sob este olhar crítico que Duchamp
defende no seu texto the creative act,
a introdução de um coeficiente artístico. Ou seja, a existência de alguma coisa
que se situa entre a intenção e a realização final da obra e que tem uma
relação directa com aquilo que não está
explicito, mas é intencional e aquilo
que não é intencional, mas está explicito. São nestas entrelinhas que o espectador
pode definir a escala estética da obra e acrescentar a sua leitura individual
tal como uma obra aberta. E assim o
acto criativo não é um acto solitário, mas sim, construído sob o binómio
artista-espectador.
Neste texto podemos subentender a qualidade radical do
pensamento de Duchamp que veio redefinir todo o fazer artístico do seu tempo. A
sua atitude irreverente inspirada pelo convívio com os dadaístas é uma procura
constante por desconstruir qualquer tipo de ordem. Na sua produção em particular
encontramos o Grand Vérre, por
exemplo, que desafia o acaso e transforma a arte num jogo, num enigma. Ao mesmo
tempo, com os ready-made, torna-se
possível transferir objectos do quotidiano para o campo extraordinário da arte.
E, não é certamente por questões estéticas que Duchamp mais se debruça na sua
criação, mas sim no campo da linguagem e das mediações que apelam à imaginação.
Sara Magno
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