sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012


Marcel Duchamp: The Creative Act

Este texto foi escrito por Duchamp em Abril de 1957 no âmbito de várias conferências sobre arte em Hoston, nos Estados Unidos e fala essencialmente sobre o processo criativo. O texto começa por colocar o artista num plano mediúnico, que está fora de qualquer plano estético e que procura uma espécie de esclarecimento através de um processo intuitivo. A obra de arte que é produzida dentro destes contornos será então sujeita a um veredicto do público que irá determinar o valor social dessa obra. Nesta fase o artista deixa de ter qualquer controlo sobre a sua obra e esta fica à mercê da crítica do espectador.

O artista, ou o escritor neste caso, procura em seguida, uma definição de arte. É interessante neste ponto relembrar uma entrevista escrita a Marcel Duchamp com o título d´ O Engenheiro do Tempo Perdido em que ele diz: “não acredito na função criativa do artista (…) por outro lado a palavra arte interessa-me muito. (…) Antigamente, eles eram designados por uma palavra que prefiro: artesãos. (…) A palavra artista foi inventada quando o pintor se transformou num personagem.” Mais à frente o artista refere a sua paixão pelo xadrez e continua a sua indagação sobre o meio artísticos da seguinte forma: “(…) o meio dos jogadores de xadrez é bem mais simpático que o dos artistas. Estes são completamente confusos, completamente cegos, usam viseira de burro. São loucos de certa natureza, como se esperava que eles sejam; mas não o são em geral. Isso foi o que provavelmente mais me interessou.” É sob este olhar crítico que Duchamp defende no seu texto the creative act, a introdução de um coeficiente artístico. Ou seja, a existência de alguma coisa que se situa entre a intenção e a realização final da obra e que tem uma relação directa com aquilo que não está explicito, mas é intencional e aquilo que não é intencional, mas está explicito. São nestas entrelinhas que o espectador pode definir a escala estética da obra e acrescentar a sua leitura individual tal como uma obra aberta. E assim o acto criativo não é um acto solitário, mas sim, construído sob o binómio artista-espectador.

Neste texto podemos subentender a qualidade radical do pensamento de Duchamp que veio redefinir todo o fazer artístico do seu tempo. A sua atitude irreverente inspirada pelo convívio com os dadaístas é uma procura constante por desconstruir qualquer tipo de ordem. Na sua produção em particular encontramos o Grand Vérre, por exemplo, que desafia o acaso e transforma a arte num jogo, num enigma. Ao mesmo tempo, com os ready-made, torna-se possível transferir objectos do quotidiano para o campo extraordinário da arte. E, não é certamente por questões estéticas que Duchamp mais se debruça na sua criação, mas sim no campo da linguagem e das mediações que apelam à imaginação.

Sara Magno

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