terça-feira, 6 de julho de 2010

Realismo Social


















Lewis Hine, Child Labor: Girls in Factory (1908)




No final do século XIX, nos EUA os fotógrafos John Thompson, Lewis Hine e Jacob Riis compreenderam que a fotografia enquanto documento sociológico pode intervir na sociedade, denunciando casos de pobreza, miséria e exploração provocados, naquele tempo, essencialmente pela industrialização e emigração. É com eles que surge o conceito de realismo social associado à fotografia.

Cada um teve o seu percurso e área de intervenção diferenciado, mas todos contribuíram para preencher os espaços em branco na imagem mental que as classes mais avultadas tinham acerca das classes mais pobres e dos seus problemas sociológicos.

O fotografo britânico John Thompson
[i] teve a experiência de viajar pela China em 1873. Num ano, produziu material suficiente para editar um livro em quatro volumes intitulado: Ilustrations Of China and It´s People. Este projecto pretendia ser um retrato social da China. No entanto, fotografou apenas as comunidades mais pobres, pois com as classes mais altas não foi bem sucedido. Em 1877, inicia um trabalho intitulado Streat Life In London, que retrata a classe social emergente – a classe operária. Depois, voltou-se para o retrato das classes mais altas, onde foi pioneiro no retrato em casa.

Apesar do forte interesse sociológico, Susan Sontag refere-se a esta atitude fotográfica de um modo crítico e incrédulo: Photography conceived as social documentation was an instrument of that essentially middle-class attitude, both zealous and merely tolerant, both curious and indifferent, called humanism – which found slums the most enthralling decors

Ainda assim, a obra fotográfica de Lewis Hine
[iii] acerca do trabalho infantil trouxe alterações profundas na lei laboral para crianças e valeu-lhe o convite para o Child Labor Committe, uma organização que se interessa essencialmente em defender os direitos de menores. Hine fotografou crianças em minas de carvão e em campos de algodão e beterraba, sendo estas fotografias decisivas na tomada de consciência para a questão da exploração infantil nos EUA e sua resolução. São fotografias com um forte cariz documental, mas, apesar do seu desprendimento estético, Hine deposita um enorme cuidado no enquadramento e luminosidade das suas fotografias.

Tal como Hine, Jacob Riis
[iv] não se esconde dos seus fotografados, envolve-se profundamente nas comunidades que fotografa e muitas vezes dá a voz por eles. Riis, um emigrante dinamarquês, jornalista da imprensa criminal em Nova Iorque, dedica parte do seu trabalho a fazer um retrato dos bairros mais pobres, das comunidades de emigrantes e das condições de trabalho da sua cidade. Enquanto jornalista tem a oportunidade de revelar uma realidade mais obscura da cidade. Em 1890, edita um livro fotográfico intitulado How the Other Half Lives e, em 1892, Children of the Poor. Nenhum teve grande impacto junto das autoridades no seu tempo, só mais tarde viria a ser valorizado e a influenciar o trabalho de outros fotógrafos, como por exemplo, os da Farm Security Administration (FSA).

Esta organização foi criada posteriormente, nos anos trinta do século XX, pelo governo de Roosevelt, que encomendou um inquérito para análise da qualidade de vida e do trabalho dos americanos para avaliar os efeitos da Grande Depressão
[v]. Os fotógrafos da FSA dão continuidade ao conceito de realismo social iniciado por Thompson, Hine e Riss, e de uma forma mais sistemática, organizada e consciente da influência da fotografia nos meios de comunicação, aceitam uma missão de carácter social: um retrato humanista da América.

[i] AMAR. Pierre-Jean, História da Fotografia, Edições 70, Lisboa, 2007, p. 84.
[ii] SONTAG, Susan, On Photography, Penguin Books, Londres, 2008 (1ª ed. 1977), p. 56.
[iii] SOUGEZ, Marie-Loup, História da Fotografia, Dinalivro, Lisboa, 2001 (1ª ed. 1996), p. 158.
[iv] SONTAG, Susan, opus cit, p. 56.
[v] BAURET, Gabriel, A Fotografia, Edições 70, Lisboa, 2010 (1ª ed. 1992), p.31.
Sara Magno
História da Fotografia
ar.co
Nível II

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