domingo, 1 de abril de 2012

“The Girl in the Magnesium Dress”






Quando crianças pensamos que, com um salto muito alto, conseguimos chegar aos céus.
De uma mesma maneira, e retomando esta ingenuidade e memória de infância,  o salto, a deslocação, o impulso,  foi o ponto de partida que permitiu à artista estabelecer um paralelo com o tema da Assumpção da Virgem Maria (a sua elevação aos céus em corpo e alma depois da morte terrena), um dogma da igreja católica.
 “The Girl in the Magnesium Dress”[1] é uma obra metafórica que, de algum modo ligada à ideia de dogma, constitui-se como uma reflexão sobre o desejo, o tempo, e sobre a impossibilidade.

Essa impossibilidade é materializada no salto, como forma de alcançar, como uma tentativa da conquista de um outro estado, numa inquietação de desejo e ânsia de mudança.

No entanto sabemos que o salto, mesmo hipoteticamente fazendo uso da leveza de um vestido de magnésio, apenas nos transporta ao ponto de partida. Não há transfiguração. A dimensão do real não nos deixa inscrever no imaginário. Que fazer então?

É aqui que começa o trabalho da artista que, usando a fotografia e o vídeo, explora processos de fraccionamento em dois espaços diferenciados mas complementares na compreensão de uma dimensão narrativa

Numa primeira abordagem esse desejo de mudança de estado é sublimado por um trânsito constante, por um limbo entre estados que a imagem fotográfica consegue fixar e que a sua rápida repetição pretende dar-lhe a força e a energia que precisa para ultrapassar essa condição estática mas que, de uma maneira deceptiva, só consegue prolongar esse estado entre mundos, entre espaços, na representação de uma espécie de suspensão do desejo na suspensão do olhar.

Num segundo espaço, mais íntimo, a autora muda a sua estratégia. Agora trabalha a imagem fixa, ou aparentemente fixa, já que é na lentidão da imagem quase fixa que o movimento se vai configurando e a personagem ascende finalmente de um ponto ao outro, porém imperceptivelmente.

E é neste jogo de paradoxos e enganos entre imagem fixa e em movimento, entre a interioridade e a performatividade, que se desenha uma possível solução para este dilema da procura que talvez passe pela rendição aos fluxos das transições nesse mundo entre mundos, sem ansiedade e sem desejo de mudança, apenas existindo na singularidade de cada momento per si.


José Oliveira


[1] “The Girl in the Magnesium Dress” é um título apropriado da obra homónima de Frank Zappa, executada pela primeira vez em 1974, e que faz parte do último álbum gravado em vida deste compositor.

Constitui este tema igualmente a banda sonora que, em loop, estabelece o ambiente sonoro do desenvolvimento da instalação de Sara Magno.

1 comentário:

  1. As crianças são tao lindas e ingenuas...
    Minha filha adora usar meus sapatos de salto alto, e meu filho faz de fotografo como se sua irma fosse uma modelo! São tao lindos!

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