Quando crianças pensamos que, com um salto muito
alto, conseguimos chegar aos céus.
De uma mesma maneira, e retomando esta ingenuidade e memória de infância, o salto, a deslocação, o impulso, foi o ponto de partida que permitiu à artista estabelecer um paralelo com o tema da Assumpção da Virgem Maria (a sua elevação aos céus em corpo e alma depois da morte terrena), um dogma da igreja católica.
De uma mesma maneira, e retomando esta ingenuidade e memória de infância, o salto, a deslocação, o impulso, foi o ponto de partida que permitiu à artista estabelecer um paralelo com o tema da Assumpção da Virgem Maria (a sua elevação aos céus em corpo e alma depois da morte terrena), um dogma da igreja católica.
“The Girl in the Magnesium Dress”[1] é uma
obra metafórica que, de algum modo ligada à ideia de dogma, constitui-se como
uma reflexão sobre o desejo, o tempo, e sobre a impossibilidade.
Essa impossibilidade é
materializada no salto, como forma de alcançar, como uma tentativa da conquista
de um outro estado, numa inquietação de desejo e ânsia de mudança.
No entanto sabemos que o salto,
mesmo hipoteticamente fazendo uso da leveza de um vestido de magnésio, apenas
nos transporta ao ponto de partida. Não há transfiguração. A dimensão do real
não nos deixa inscrever no imaginário. Que fazer então?
É aqui que começa o trabalho da
artista que, usando a fotografia e o vídeo, explora processos de fraccionamento
em dois espaços diferenciados mas complementares na compreensão de uma dimensão
narrativa
Numa primeira abordagem esse
desejo de mudança de estado é sublimado por um trânsito constante, por um limbo
entre estados que a imagem fotográfica consegue fixar e que a sua rápida
repetição pretende dar-lhe a força e a energia que precisa para ultrapassar
essa condição estática mas que, de uma maneira deceptiva, só consegue prolongar
esse estado entre mundos, entre espaços, na representação de uma espécie de
suspensão do desejo na suspensão do olhar.
Num segundo espaço, mais íntimo,
a autora muda a sua estratégia. Agora trabalha a imagem fixa, ou aparentemente
fixa, já que é na lentidão da imagem quase fixa que o movimento se vai
configurando e a personagem ascende finalmente de um ponto ao outro, porém
imperceptivelmente.
E é neste jogo de paradoxos e
enganos entre imagem fixa e em movimento, entre a interioridade e a
performatividade, que se desenha uma possível solução para este dilema da
procura que talvez passe pela rendição aos fluxos das transições nesse mundo
entre mundos, sem ansiedade e sem desejo de mudança, apenas existindo na
singularidade de cada momento per si.
José Oliveira
[1] “The Girl in the Magnesium Dress” é um título
apropriado da obra homónima de Frank Zappa, executada pela primeira vez em
1974, e que faz parte do último álbum gravado em vida deste compositor.
Constitui
este tema igualmente a banda sonora que, em loop,
estabelece o ambiente sonoro do desenvolvimento da instalação de Sara Magno.
As crianças são tao lindas e ingenuas...
ResponderEliminarMinha filha adora usar meus sapatos de salto alto, e meu filho faz de fotografo como se sua irma fosse uma modelo! São tao lindos!